Altamente corrosivo, produto é controlado pelo Exército; Delegacia do Meio Ambiente investiga
O ácido sulfúrico que vazou na tarde de quarta-feira em um ferro-velho localizado no Corredor ABD, em Diadema, e feriu cinco pessoas, estava armazenado de forma irregular no local havia dois meses. O Diário esteve ontem no estabelecimento, que foi inaugurado em 2017 como ecoponto municipal, para conversar com as pessoas que o administram em sistema de autogestão.
Os trabalhadores não quiserem se identificar, mas informaram que os galões estavam lá havia pelo menos dois meses. Altamente corrosivo, o ácido sulfúrico que ficava nas embalagens era o tipo concentrado e deveria estar em lugar coberto e longe de produtos orgânicos e/ou inflamáveis.
Diferentemente do que foi informado pela SSP (Secretaria da Segurança Pública) do Estado, que os galões teriam caído de um caminhão, uma trabalhadora do ferro-velho disse que um dos reservatórios tombou e o líquido vazou para a rua. Após a formação da poça do produto na via, carros que passavam no local espirraram o ácido nas pessoas que foram feridas.
No entanto, o muro no entorno do equipamento não possui nenhum buraco ou encanamento que permitisse o escoamento do líquido. Moradores do entorno afirmam que um dos trabalhadores estava despejando o conteúdo dos barris na via, sem saber que se tratava de produto altamente perigoso.
O químico e ex-diretor da Abralimp (Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional) Miguel Sinkunas explicou que o ácido sulfúrico concentrado é um desidratante fortíssimo e carboniza imediatamente qualquer material orgânico.
Professor de química do Instituto Mauá de Tecnologia, Luis Geraldo Cardoso dos Santos explicou que o ácido sulfúrico 98% é o ácido concentrado que normalmente é estocado ou transportado dessa maneira para ocupar menos volume. “Nos usos comuns (indústria de fertilizantes, farmacêutica e de corantes) normalmente ele é diluído com água conforme a proporção necessária”, relatou. Produção, comercialização e transporte são controlados pelo Exército, porque também pode ser utilizado para fabricação de explosivos.
Além de todo o risco ao qual estavam expostos os trabalhadores do ferro-velho e os moradores do Núcleo Habitacional Naval, a população também se queixou do fechamento do ecoponto, que recebia entulho e móveis velhos, que agora são jogados nas calçadas, no entorno do equipamento, desde que o local passou a ser administrado em um sistema de cogestão por alguns moradores do bairro.
A Prefeitura de Diadema reiterou que as cinco pessoas que se feriram estão fora de perigo e que o armazenamento de material inflamável e danoso à saúde no local onde funciona uma central de reciclagem não era permitido.
A administração alegou que aguarda um novo parecer técnico para decidir qual providência irá tomar e destacou que desde 17 de setembro de 2019 a gestão do ex-prefeito Lauro Michels (PV) autorizou o uso do local como posto de reciclagem administrado por meio de autogestão.
O caso está sendo investigado pela Dicma (Delegacia de Investigações sobre Infrações contra o Meio Ambiente) de Diadema. Um homem de 72 é investigado, mas não chegou a ser detido. A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) avalia ações administrativas possíveis.
Fonte: Diário do Grande ABC