Setor vive o melhor momento desde a década de 90
Avaliação é do presidente da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), Fernando Paes. Para ele, os projetos do segmento começaram a sair do papel
Exemplos disso são as renovações antecipadas das concessões ferroviárias, os projetos que envolvem a FIOL, a relicitação da Malha Oeste e o início da operação da Ferrovia Norte-Sul
Mesmo em meio à pandemia, o mercado ferroviário de cargas brasileiro vive tempos de ótimos resultados e apresenta o melhor momento do setor dos últimos 30 anos. É o que acredita o presidente da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF) – uma das principais entidades de classe do segmento -, Fernando Paes.
Para ele, isso ocorre porque os projetos que estavam previstos para o setor há anos começaram a sair do papel, como as renovações antecipadas das concessões ferroviárias, que vinham sendo discutidas desde 2015, quando a pauta foi incluída no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do Governo Federal (criado para reforçar a coordenação das políticas de investimentos em infraestrutura, por meio de parcerias com a iniciativa privada).
“Desde 2015 estamos falando de expansão, não necessariamente da malha ferroviária, mas do setor em si. Na época, o governo já havia anunciado um plano bem audacioso de crescimento para o segmento, com pontos muito importantes, como a questão das renovações antecipadas. Acreditava-se até que isso ocorreria ainda naquele ano, mas infelizmente o Brasil é um país em que as coisas demoram para acontecer. Não deveria ser assim, mas, finalmente, está andando”, afirma.
Paes lembra que tudo começou, de fato, no ano passado, quando os primeiros contratos de renovação foram assinados: o da Malha Paulista (da Rumo Logística), em maio de 2020; e os das Estradas de Ferro Vitória-Minas e Carajás (ambas operadas pela Vale), em 18 de dezembro – e ainda há a expectativa pelas prorrogações, em breve, da Malha Regional Sudoeste (operada pela MRS Logística e já em análise pelo Ministério da Infraestrutura e pela Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT); da Ferrovia Centro-Atlântica (a FCA, que é administrada pela VLI Logística) e da Malha Sul (também da Rumo).
“Com as prorrogações antecipadas dessas concessões, estima-se o aumento do volume de cargas movimentado em cerca de 70 milhões de toneladas por ano, o que contribuirá para uma redução de aproximadamente 30% dos custos do transporte, além da captação de R$ 30 bilhões em aportes, em média, apenas nos primeiros cinco anos dos novos contratos. Somente a MRS, por exemplo, pretende dobrar a capacidade de transporte em cargas gerais: de 30% para 60% nesta categoria. Sem contar o aumento de materiais rodantes, de tecnologia, de segurança e de empregos nestas linhas ou em suas cadeias (a perspectiva é que 700 mil novos postos de trabalho sejam gerados, principalmente na indústria e no setor de serviços)”, exalta.
FIOL – Além das renovações antecipadas, há outros projetos ferroviários no radar do setor, como os que envolvem a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) – que teve seu primeiro trecho leiloado no início deste mês. Chamado de FIOL 1, o trajeto de 537 km de extensão, entre o Porto de Ilhéus e Caetité, na Bahia, foi arrematado pela empresa Bahia Mineração (Bamin).
A companhia ficará responsável pelo acabamento e pela operação do trecho, reconhecido como um importante corredor de escoamento de minério de ferro do sudoeste baiano, pelos próximos 35 anos, com previsão de R$ 3,3 bilhões em recursos injetados. Segundo o governo federal, a concessão, que deve ter a operação iniciada em 2025, permitirá a criação de até 55 mil empregos, diretos e indiretos, e o transporte de mais de 18 milhões de toneladas de cargas.
“Isso é só o começo: quando a FIOL chegar mais perto do oeste baiano, vai ganhar outro grau de relevância e se tornar ainda mais fundamental para o país, principalmente quando se conectar a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (FICO), tornando-se também outro importante corredor de escoamento do agronegócio brasileiro. Ou seja, a FIOL pode vir a ser muito mais essencial do que é hoje, mas essa licitação inicial já foi um passo muito importante”, pontua.
Próximos Passos – Paes salienta ainda que há a relicitação da Malha Oeste para ocorrer – qualificada para o PPI em dezembro de 2020 e que estima a realização de investimentos para a modernização e ampliação da ferrovia, a partir do seu leilão, previsto para o primeiro semestre de 2023 – que, de acordo com ele, também deve trazer bons frutos.
Outra grande expectativa do mercado, segundo o executivo, é o desenrolar da Ferrovia Transnordestina, que desde 2019 enfrenta alguns imbróglios: quando a ANTT indicou ao Ministério da Infraestrutura a declaração de caducidade da concessão, que tem a CSN à frente da operação, por descumprimento de contrato. “Nosso desejo é que o governo consiga desatar o nó desta via, que está com as obras em um ritmo muito lento, com alguns pontos a serem resolvidos. Esse é um projeto que é uma aposta muito grande do setor, no entanto, a obra precisa ser entregue, as autoridades competentes precisam achar uma forma de terminá-la”, ressalta.
Cenário Promissor – O presidente da ANTF diz que tudo isso vem ocorrendo porque estamos em um momento único, em que os projetos começaram a acontecer. “Temos também a Rumo investindo para dobrar sua capacidade no Centro-Oeste e em São Paulo; a Ferrovia Norte-Sul já em operação e com suas obras totalmente concluídas (o que nos permite sair, finalmente, do Porto de Santos em direção ao Porto de Itaqui na mesma bitola); a Vale injetando recursos em suas ferrovias (além do fato de que ela começará a construir a FICO também, algo que deve fazer em até 3 anos, no máximo, o que é considerado rápido no setor); os projetos da Ferrogrão, entre muitas outras iniciativas em paralelo, que devem mudar a situação do setor para melhor”, comemora.
Para ele, desde a desestatização do mercado ferroviário, na década de 90, não se via um cenário tão promissor para o setor no Brasil como agora. “Temos um modal muito acanhado no país, é verdade, mas já passamos por uma revolução dos anos 90 para cá, com o aumento da quantidade de cargas, de investimentos, de empregos, entre outros fatores importantes que ocorreram com a entrada da iniciativa privada no setor. Agora, estamos indo para uma segunda revolução ferroviária no país, considerando essas últimas três décadas: algo que o governo conseguiu fazer, muito graças ao PPI”, finaliza Paes.
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Fonte: Site Segs